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5a1_entrevista Tainá de Paula

por A Palavra Solta





Fotografia: Fernanda Dias


Vereadora eleita pela cidade do Rio de Janeiro com mais de 20 mil votos pelo Partido dos Trabalhadores em 2020, Tainá de Paula tem a dura missão de compor a oposição em uma das cidades mais atreladas ao bolsonarismo, e após todo o desgaste da prefeitura de Marcelo Crivella.

Por email, a parlamentar respondeu às nossas perguntas.


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1. Esse é o seu primeiro mandato, antes você veio candidata à deputada estadual pelo PCdoB, e em 2020 consegue uma cadeira na Câmara Municipal do Rio. Como foi todo esse processo? Como foi a passagem (e as articulações) da Tainá, moradora da Praça Seca, à vereadora eleita?


Começo meus primeiros passos políticos em movimentos estudantis. Primeiro no Colégio Pedro II, depois no movimento UFF Livre – que era movimento estudantil da Universidade Federal Fluminense – enquanto ainda era estudante de arquitetura. Posteriormente passei a trabalhar com isso e militar na pauta do urbanismo dentro do Partido dos Trabalhadores.

Saio do PT em 2013 por conta de algumas divergências e começo a me organizar em uma iniciativa – muito próspera na época – que era a Partida Feminista: um partido feito somente de mulheres para as mulheres. Por conta dessa movimentação tenho a oportunidade de me aproximar de Marielle nessa caminhada política. Em 2016 faço parte da equipe que organizou a campanha da Marielle pelo PSOL.


Infelizmente a partir do assassinato brutal de Marielle em 2018, entendo a relevância de me tornar figura pública necessária para o debate político. Nesse momento me coloco à disposição e passo a integrar – pelo PCdoB – um projeto de candidatura de mulheres. Apesar de não ter sido eleita naquele ano, fizemos uma bela campanha aqui no Rio.


No final de 2019, com entendimento sobre a importância de fortalecermos uma frente ampla dentro do campo Progressista faço o movimento de retorno ao PT com objetivo de resgatar um legado muito forte de negras, negros e trabalhadores. Mas também no movimento de oxigenação do partido. A partir daí montamos nossa campanha em 2020, apresentando nossas propostas políticas e conseguindo esse resultado expressivo nas urnas como a vereadora mais votada da esquerda carioca!




2. Sua formação é voltada para os problemas de ocupação e mobilidade na cidade, há anos a você vem encabeçando projetos relacionados ao urbanismo. Dois dos maiores problemas hoje do Rio de Janeiro são o sucateamento do BRT e as construções ilegais em áreas dominadas pelas milícias. Como parlamentar, quais as movimentações em torno dessas questões?


O Rio de Janeiro enfrenta hoje um dos momentos mais críticos de sua história e, certamente, os problemas de mobilidade associados à pandemia e a expansão das áreas de domínio das milícias são parte significativa desse contexto. Como parlamentar o nosso papel é fiscalizar o poder executivo, mas sempre em uma perspectiva de ajudar a apontar saídas para esta crise. É importante destacar que as milícias se fortaleceram com a fragilização do poder público na prestação de serviços essenciais para o cidadão. Nesse sentido, é muito importante que a gente tenha investimento para garantir transporte público de qualidade em todas as áreas da cidade, acesso à água, segurança e todos os demais serviços públicos essenciais. Só assim conseguiremos frear a violência desses grupos.


O processo de revisão do Plano Diretor pode ser também uma boa oportunidade para isso e é interessante que ele esteja coincidindo com a intervenção nos sistemas de bilhetagem eletrônica e do próprio BRT. Precisamos pensar em alternativas para o financiamento do transporte público e a revisão do plano diretor pode nos ajudar a encontrar alternativas. O modelo de financiamento de transporte viabilizado somente com o dinheiro da tarifa já demonstrava ser insuficiente antes da pandemia, depois ficou totalmente inviável. Temos uma redução drástica no número de passageiros e uma demanda por uma quantidade de veículo que evite as aglomerações. O transporte público é hoje um dos principais vetores de transmissão do Covid-19. O Plano Diretor pode e deve estabelecer mecanismos redistributivos que ajudem a financiar o transporte público. A outorga onerosa, que é uma contribuição que o município pode recolher dos empreendimentos que constituírem acima do coeficiente mínimo estabelecido para uma determinada região é um exemplo.




3. O Brasil tem vivido o seu pior momento dentro de sua história democrática, até o dia de hoje (02/04) temos 325 mil mortos por Covid e um franco desgoverno contra o país. O que, por sua vez, aumenta o protagonismo das câmaras legislativas dos estados e municípios no combate à pandemia. Afora as medidas urgentes de isolamento, em médio prazo (com sorte), teremos que pensar um plano de recuperação das cidades. Como pensar uma retomada econômica (ou ao menos uma redução de danos) dentro desse contexto?


A pandemia tornou ainda mais evidente a dramática desigualdade social do nosso país e do Rio de Janeiro, particularmente. A saída para crise da pandemia tem que ser o investimento em políticas públicas que garantam dignidade para a população mais vulnerável. Política habitacional e de saneamento básico, por exemplo, além de serem fundamentais para a garantia da vida, ainda mais em uma pandemia, são importantes vetores de geração de emprego e renda. Valorização dos serviços públicos, estamos vendo a importância do SUS, tanto no atendimento de pessoas contaminadas como na aplicação da vacina em âmbito nacional. Outra medida importante é criar mecanismos de redistribuição de renda, o que é fundamental para enfrentar a desigualdade, o Plano Diretor é uma oportunidade para isso. Estamos discutindo a atuação do Plano Diretor como se não houvesse pandemia mas é necessário que haja uma reformulação das estratégias e diretrizes pois o contexto pandêmico mudou completamente as necessidades principais da cidade.




4. Apesar do lema “vamos cuidar das pessoas”, a gestão do ex-prefeito e bispo da Igreja Universal, Marcelo Crivella, foi marcada por um completo abandono das funções administrativas da cidade, o que se tratando de Rio de Janeiro, significa ampliar esse abismo entre as classes. A qualidade das escolas municipais, o sucateamento do BRT, a insatisfação dos servidores, os casos de corrupção. Como ler os anos Crivella e como pensar uma cidade possível a partir disso?


É sempre necessário pensar cidades a partir de gestões ruins, na verdade, quanto pior a gestão, mais trabalho temos depois que acaba. É exatamente este o momento que estamos vivendo, precisamos pensar nas rotas necessárias e possíveis. Venho em grande diálogo com os vereadores da casa, com secretários e com o prefeito desde que assumi meu cargo, diálogo de alinhamento de possibilidades. Como vamos fazer as mudanças? Ainda estamos alinhando isso e tomando as ações necessárias para cada momento. Num período pandêmico como este, as ações acabam se tornando todas emergenciais, por isso estamos atentos a todos os problemas que ocorreram na última gestão e agindo em função de uma melhora rápida na qualidade de vida da população.



5. É impensável entrar na Câmara dos Vereadores, com toda força representativa que há na sua legislatura, e contornar a presença de Marielle Franco. Como é ocupar uma cadeira na Câmara Municipal, sendo mulher, negra, vinda de uma região periférica da cidade, após o dia 14 de março de 2018?


Fui da equipe de Marielle, trabalhei com ela e era sua amiga. Sua morte dói em mim todos os dias e acredito muito no trabalho que realizo hoje pois estive ao seu lado em muitos momentos e sei o quanto é importante estarmos ali naquela cadeira. Uma mulher preta, periférica na Câmara dos Vereadores é uma representatividade necessária. É com muita coragem que vou trabalhar todos os dias e essa coragem vem justamente do entendimento da importância do trabalho que estou realizando. Quando estava em campanha, recebi olhares de meninas que falavam que queriam estar onde estou agora porque a minha presença, como candidata em seu território, fazia com que seus sonhos se tornassem uma possibilidade. Futuros possíveis vêm de construções presentes, é nisso que eu acredito.


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