por Ana Luiza Rigueto
Fotografia: Walter Firmo
você,
que viveu muito mais
que eu e nem por isso
estamos em outro lugar
buscando outras coisas
ou sabemos o que buscamos
a diferença é se fomos
capazes de afundar
se refizemos limites
quanto tempo nadamos
pra longe da borda
deve ser essa a diferença
entre nadar e saber de cor
quando um pulmão
é exigido na altura
de sua capacidade
então foi preciso segurar
a respiração
dar braçadas
reduzir a atenção
ao volume turvo
que arranca
os pés
e você
não vai dar pé
nem vai se recuperar
e eu não vou
me recuperar
precisamente porque
praticamos apneia e quase
nos acidentamos e afinal
nos acidentamos mesmo
que não contemos a ninguém
mesmo que façamos aquela cara
de que agora sim estamos vivos
aquela cara de alívio porque
não seríamos capazes
de nos explicar
nem sabemos falar a respeito
e usar o aparato do mergulho
não dá conta
o aparato dos poetas
da política da psicologia
dos salva vidas
dos fisioculturistas
nenhum aparato dá conta
de explicar quando a vida
de repente cintila, borbulha
esfria a nossa pele até
não poder mais deixa em
carne viva a nossa pele
até não podermos mais
e de repente estamos
voltando pra casa
quilômetros e
quilômetros
atrás de nós
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