por Flávio Morgado
Tais são, na verdade, as moradas do perverso,
e este é o lugar do que não conhece a Deus.
Imagem: Marcos Corrêa/PR. Fonte: Uol Notícias
Pronunciamento oficial do Presidente Jair Bolsonaro, por vídeo transmissão, na Assembleia Geral da ONU no dia 22 de setembro de 2020.
Senhoras e senhores,
É uma honra abrir esta assembleia com os representantes de nações soberanas, num momento em que o mundo necessita da verdade para superar seus desafios.
[Pois é exatamente desta premissa levantada com tamanha convicção, Presidente Jair Bolsonaro, que apoiarei, e com nada mais que afinco e fatos, a patente da verdade nesse texto. Estatuto este, tão vilipendiado por sua estratégia semiótica de dominação: a massificação de fake news, a desinformação sistemática e sonsa e a criação desse eleitorado entre o bovino e o robótico. Sigamos. Prazer, capitão, sou esse aqui de vermelho.]
A COVID-19 ganhou o centro de todas as atenções ao longo deste ano e, em primeiro lugar, quero lamentar cada morte ocorrida.
[Pausa importante. Esse pronunciamento foi em forma de transmissão de vídeo, e por mais que eu não seja um psicólogo voltado aos mecanismos dos gestos e suas falas, tem aí um ponto disruptivo ululante. Ululante, no sentido de que é a primeira sentença do Capitão e ele já “entrega toda paçoca”: uma pausa constrangedora, uma expressão que perscruta a leitura de um tele pronter, forja uma postura afirmativa vergonhosa a qualquer um atento, e encerra a frase com uma expressão tão cínica quanto um filho que sabe ser até meio charmosa a mentirinha para o pai.
O governo ficou durante cinco meses sem um Ministro da Saúde e um planejamento médico no momento mais crucial do novo século em relação a uma doença. Foram 140 mil mortos até agora. O Governo Federal tratou com deboche a pandemia em todos os seus pronunciamentos oficiais, tornou-se uma vergonha internacional, e há fortes indícios de que a pandemia tenha sido covardemente usada contra os povos originários do país. Você não lamenta nem sequer a morte da avó de sua companheira, que morreu de Covid-19, e teria sido encontrada como indigente em uma sarjeta de uma cidade satélite de Brasília, a poucos quilômetros do seu gabinete e da sua dignidade.]
Desde o princípio, alertei, em meu país, que tínhamos dois problemas para resolver: o vírus e o desemprego, e que ambos deveriam ser tratados simultaneamente e com a mesma responsabilidade.
[Não senhor. Desde o início você tratou a pandemia como uma “histeria coletiva”, jogou a culpa nos chineses, no comunismo (?), na Globo (??)... O senhor chegou a dizer que era apenas uma “gripezinha”, e que a economia não pode parar por uma frescura dessas. O número de mortes se multiplicava, e você aparecia em público sem máscara, transmitindo o vírus, assinando um dos maiores genocídios assistidos da história do país. Pressionado pela sua ala econômica, os anacrônicos Chicago Boys, você viu o projeto liberal entreguista ir para o ralo. Uma galera dessa ala pulou do barco, você mesmo já transformou o homúnculo do Paulo Guedes em um SuperMinistro Decorativo e essa rinha de galinha velha rolava no auge da contaminação do vírus. Desordem e Regresso.]
Por decisão judicial, todas as medidas de isolamento e restrições de liberdade foram delegadas a cada um dos 27 governadores das unidades da Federação. Ao Presidente, coube o envio de recursos e meios a todo o País.
[Não chore ressentimentos coronelistas! Primeiro, porque você já entendeu, ou pelo menos foi assessorado a entender, que essa gravação é um teatro, e que pra ONU (lembra a ONU? Do Foro de São Paulo? Das ONGs? Do Léo Di Caprio? Então...), essa instituição “comunista”, ela quer que você finja que é democrata e não atrapalhe os seus planos, então você não pode começar já choramingando a estrutura republicana, já que em reunião ministerial, a Damares defendeu até prender governador que seguisse às recomendações da OMS, e você aplaudiu. Então atua, só isso. Lembra da facada...]
Como aconteceu em grande parte do mundo, parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população. Sob o lema “fique em casa” e “a economia a gente vê depois”, quase trouxeram o caos social ao país.
[Como é possível “politizar o vírus” quando ele gera 140 mil mortes? Como é possível mesmo ao mais liberal, não enxergar que a proliferação da pandemia geraria o colapso do próprio sistema, como tem sido inclusive? Como “politizar o vírus” senão ao negligenciá-lo, e assim ampliar a máquina da morte, transformar a estrutura de saúde pública em uma verdadeira triagem, dar ao país a morte no centro de sua força anímica, dar à paisagem nacional a cova coletiva?]
Nosso governo, de forma arrojada, implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior:
- Concedeu auxílio emergencial em parcelas que somam aproximadamente 1000 dólares para 65 milhões de pessoas, o maior programa de assistência aos mais pobres no Brasil e talvez um dos maiores do mundo;
[MIL DOLARES?! Realmente tu vai meter essa na cara dura? Uma comissão de economistas, diplomatas, a alta classe dos países mais ricos, gente letrada na história da própria diplomacia mundial, que ouviu ditador de tudo que é país, que ouviu Che Guevara inflamado, Gilberto Gil tocando agogô com o Koffi Annan, sinceramente você joga esse valor, que tá absolutamente fora da realidade não só do que foi implementado, mas do que você tentou vetar e transformar em 200 reais, Presidente. E se eu não me engano, isso equivale a 36 dólares! O auxílio emergencial, absolutamente burocratizado, e que não deu conta da miséria que assola o país, só contou com 4 parcelas de 600 reais, porque foi uma vitória da oposição ao seu governo. Esse valor cai agora pela metade, junto com a precarização das condições de trabalho que a sua Reforma impôs.]
- Destinou mais de 100 bilhões de dólares para ações de saúde, socorro a pequenas e microempresas, assim como compensou a perda de arrecadação dos estados e municípios;
[O auxílio às microempresas foi um dos mais denunciados por esquemas de corrupção e dificuldade de acesso por parte dos verdadeiros pequenos empreendedores do país. As ações na saúde foram tão assassinas, que essa dimensão se espraiou para a esfera estadual e municipal: foi a festa da propina. Governadores afastados (seus inimigos, claro), compra de respiradores sem função, leitos não entregues, sobrecarga do SUS em meio ao seu franco declínio de investimentos federais. Quando o assunto for Saúde, por uma questão cristã, vamos lá que seja, abaixe o olhar – enquanto ainda não existe um órgão de Direitos Humanos capaz de julgar toda a sua conduta e direcionamento da pandemia como um ato genocida, você ainda poderá contar com o valor minimamente ético do constrangimento sobre esse assunto.]
- Assistiu a mais de 200 mil famílias indígenas com produtos alimentícios e prevenção à COVID;
[A Covid-19 foi utilizada da maneira mais perversa contra os povos originários. Inimigos desde sempre da sua política de dizimação e barbárie, os indígenas estão sendo constantemente acossados por garimpeiros e madeireiros, todos estimulados pela sua fala raivosa. Vários povos relataram o uso de membros da FUNAI (o que já poderia ser problemático, agora está sob a tutela do fascismo) ou mesmo do Exército Brasileiro (que sob a batuta do General de pijamas quer “proteger” a Amazônia) no incentivo à contaminação e assim facilitar o acesso do Grande Trator que se tornou a sua política agrária: não só à biodiversidade (esse assunto que interessa mais à ONU do que o exotismo gringo em relação aos povos originários), mas sobretudo ao modo de ser indígena.]
- Estimulou, ouvindo profissionais de saúde, o tratamento precoce da doença;
[Meu respeito aos profissionais da saúde, que sob as piores condições possíveis, de estrutura física, política e psicológica, incluindo perseguição bolsonarista e agressões, ainda assim não abandonaram o front, fazendo valer a tão honrosa profissão do médico, capaz de atuar com seriedade mesmo com toda sua formação sendo bem marcada por um corte de classe.]
- Destinou 400 milhões de dólares para pesquisa, desenvolvimento e produção da vacina de Oxford no Brasil;
[Um recado direto ao Dória, seu principal adversário político no espectro da direita brasileira. O "príncipe dos governadores”, João Dória, com toda aquela sua estética cyberpunk durante as transmissões das notícias no que foi o epicentro da Covid-19 no Brasil, anunciou recentemente a compra de 60 milhões de doses da vacina chinesa Sinovac. Como o bolsonarismo tem essa influência olavista da postura anti-China, Dória usou do poder aquisitivo do Estado de São Paulo e saiu na frente dessa nova corrida capitalista, que é a mercantilização da cura. 2022 é logo ali. “A vacina é uma puta case de sucesso!”]
Não faltaram, nos hospitais, os meios para atender aos pacientes de COVID.
[Página do G1, canal de notícias, no dia 22 de abril deste ano: “Pelo menos 100 enfermeiros e 30 médicos do Rio de Janeiro estão afastados de suas funções por contágio ou suspeita do novo coronavírus. As informações são do diretor do Conselho Regional de Enfermagem, Glauber Amâncio, que destaca a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) como um dos principais motivos para os contágios.” Outras notícias como essa se repetem.]
A pandemia deixa a grande lição de que não podemos depender apenas de umas poucas nações para produção de insumos e meios essenciais para nossa sobrevivência. Somente o insumo da produção de hidroxicloroquina sofreu um reajuste de 500% no início da pandemia. Nesta linha, o Brasil está aberto para o desenvolvimento de tecnologia de ponta e inovação, a exemplo da indústria 4.0, da inteligência artificial, nanotecnologia e da tecnologia 5G, com quaisquer parceiros que respeitem nossa soberania, prezem pela liberdade e pela proteção de dados.
[A cloroquina. Este medicamento, que possivelmente tem a sua função para determinados pacientes, sobretudo com a malária, se tornou na mão e na fala do Bolsonaro o talismã da morte. (Para entender melhor a semiótica de todo esse discurso, acho que vale conferir o texto “Um político performático: o que nos dizem as imagens de Bolsonaro com a sua cloroquina?” escrito por Pollyana Quintella nesta mesma revista). O medicamento não só não tem qualquer eficácia comprovada em relação ao Corona Vírus, como existe um alto risco de morte para cardiopatas e outros grupos de risco.
Mas o que está em jogo aqui, para além desse delírio anti-científico, é essa anacrônica Guerra Fria entre EUA e China, no que se refere, por exemplo, a tecnologia 5G: o Brasil adota uma diplomacia adestrada com o chanceler Ernesto Araújo e o obscurantismo olavista, e acaba por latir em nome de Trump e suas chantagens comerciais. Se a preocupação fosse a proteção dos dados, o senhor Presidente não teria patrocinado um exército de boots e nem seria o filhote eleitoral das pretensões racistas do Steve Bannon.]
No Brasil, apesar da crise mundial, a produção rural não parou. O homem do campo trabalhou como nunca, produziu, como sempre, alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas. O Brasil contribuiu para que o mundo continuasse alimentado.
Nossos caminhoneiros, marítimos, portuários e aeroviários mantiveram ativo todo o fluxo logístico para distribuição interna e exportação.
Nosso agronegócio continua pujante e, acima de tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do planeta.
Mesmo assim, somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal.
A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil.
Somos líderes em conservação de florestas tropicais. Temos a matriz energética mais limpa e diversificada do mundo.
[Na mesma reunião ministerial citada pouco acima, em que para nós chegou como uma sucursal da editoria do Apocalipse, e para muitos bolsonaristas virou vídeo de campanha, o ministro, “pai de planta” Ricardo Salles, do Meio Ambiente, disse que era o momento mais oportuno (a pandemia) para “passar a boiada”. A sua ministra da Agricultura liberou mais de 209 agrotóxicos, quer acabar com o Guia Alimentar, estimula a concentração fundiária e o desgaste capitalista de nosso solo. Este mesmo ano, o seu governo cortou mais de 184 bilhões de reais do Ministério do Meio Ambiente em meio à maior devastação de nossos biomas na História. Destruição essa patrocinada por você e os financiadores de sua eleição, destruição essa, motivada pelo mesmo garimpo que você diz pertencer “ao veio da nação” (curioso, primeiro, ver os passados que você elege, segundo, a ironia dessa condição ser exatamente em sua metáfora uma sanguessuga na aorta nacional). Destruição essa, cinicamente dissimulada nesse seu discurso, como se o mundo ainda fosse 1939 e genocidas pudessem construir qualquer narrativa sem vazamentos. Lamento que não esteja na Coreia do Norte, mas nem culpar um ator de Hollywood vai ser menos vergonhoso do que toda essa cara de pau. A História há de nomear esse Nero.]
Mesmo sendo uma das 10 maiores economias do mundo, somos responsáveis por apenas 3% da emissão de carbono.
[Notícia do portal ClimaInfo em 22 de maio deste ano: “De acordo com os dados do SEEG, as emissões do Brasil podem subir entre 10% e 20% neste ano em relação a 2018, último ano para o qual há dados consolidados. O crescimento é puxado pela alta no desmatamento, que, considerando a média dos últimos cinco anos nos meses de maio a julho, deve ter emissões 29% maiores do que em 2018. Se o ritmo de desmate em maio, junho e julho for semelhante ao observado nos mesmos meses do ano passado, o crescimento das emissões relativas à mudança de uso da terra podem ser ainda maior: 51%.”
Cabe lembrar também a defesa fervorosa da oposição aos tratados climáticos defendidos pelas comunidades internacionais empreendida pelo “antiglobalismo” desse Itamaraty do regresso.]
Garantimos a segurança alimentar a um sexto da população mundial, mesmo preservando 66% de nossa vegetação nativa e usando apenas 27% do nosso território para a pecuária e agricultura. Números que nenhum outro país possui.
O Brasil desponta como o maior produtor mundial de alimentos.
E, por isso, há tanto interesse em propagar desinformações sobre o nosso meio ambiente.
Estamos abertos para o mundo naquilo que melhor temos para oferecer, nossos produtos do campo. Nunca exportamos tanto. O mundo cada vez mais depende do Brasil para se alimentar.
[Cerca de mais de 80% do abastecimento interno é proveniente da agricultura familiar, que não só o Governo Federal desprestigia com sua política latifundiária, como não há sequer o esforço de qualquer planejamento ou programa de incentivo. Durante a pandemia, essas famílias tiveram uma queda assustadora em seus rendimentos, o que as coloca em uma situação ainda de mais vulnerabilidade e suscetível ao abocanhamento das grandes fazendas. Somado a isso, nossa diplomacia e péssima conduta em relação à pandemia geraram um medo internacional em relação aos produtos brasileiros. Perdemos mercados com os chineses, com os venezuelanos e qualquer outro “inimigo da política externa olavista”.
Bolsonaro repõe nossa “vocação agrícola”, subjuga nossa condição comercial ao subalterno produtor de commodities, pensa estar agradando com um discurso surpreendentemente entreguista, mesmo para os padrões do século XVI, talvez a sua referência de mundo.]
Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas.
[Sem dúvida, o clímax desse discurso assustador. Emblemático em toda sua semiótica, sua produção canalha de sofismas e seu delírio psicopata de perseguição. Ausente até aqui de qualquer amparo mínimo no real, seu discurso nesse momento parece adquirir o teor mais abertamente fascista. E aí cabe entender a mesma construção narrativa utilizada por governos autoritários: a criação do inimigo comum, a culpabilização racista de um modo de estar no mundo como intrinsecamente danoso ao patriotismo e ao modelo ideal de nação. Seu discurso bandeirantista, irresponsável; sua bravata violenta que ao mesmo tempo que assina decretos de destruição dos povos originários, normaliza e autoriza toda uma criminalização e um extermínio desses grupos étnicos.
Em tempo de justiça, a ONU jamais permitiria a construção dessa fala. Mas não é este o tempo. Idosos indígenas são acometidos pela Covid-19 e uma língua, uma memória, uma possibilidade de ser no mundo, profundamente ligada à sua resistência oral, esvai-se, extingue-se. O Brasil se humilha no Bolsonaro.]
Os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação. Mantenho minha política de tolerância zero com o crime ambiental. Juntamente com o Congresso Nacional, buscamos a regularização fundiária, visando identificar os autores desses crimes.
[No dia 29 de agosto desse ano, Presidente, seu vice deu esse depoimento ao jornal O Globo: “Cometemos erros sim (afirmou ele, que participava de um evento na última quinta-feira (29) em Vitória, no Espírito Santo). Mourão também culpou a cultura local de produtores rurais como causa de incêndios: Todos os anos nós sabemos que agosto, setembro e outubro são meses de queimadas. É igual ao 7 de setembro , a gente sabe que tem todo ano. Queimada também tem todo ano. Compete aos entes governamentais, em todos os níveis, travarem um combate às ilegalidades cometidas nesse momento", disse o Vice-Presidente.
Lembro que a Região Amazônica é maior que toda a Europa Ocidental. Daí a dificuldade em combater, não só os focos de incêndio, mas também a extração ilegal de madeira e a biopirataria. Por isso, estamos ampliando e aperfeiçoando o emprego de tecnologias e aprimorando as operações interagências, contando, inclusive, com a participação das Forças Armadas.
[Todos nós sabemos não só do financiamento, como da folia dos madeireiros em relação à sua eleição. Não só os grandes, como esses mesmos que cita, os ilegais: esses se sentiram mais autorizados do que nunca para ampliarem sua devastação, sobretudo em demarcações indígenas, afim de inclusive ajudar o Governo em seu projeto de eugenia. As Forças Armadas (que vergonha) são coniventes.]
O nosso Pantanal, com área maior que muitos países europeus, assim como a Califórnia, sofre dos mesmos problemas. As grandes queimadas são consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição.
[Todas as vezes que ele menciona essa questão da nossa grandeza continental eu me divido em três hipóteses: a) a obsessão fálica da disputa pelo tamanho; b) a perversão de desenhar o tamanho do estrago; c) aquele papo de corretor de imóvel doido pra vender (“a sala é ampla, o quartinho de empregada super entocado...”).
Além de, mais uma vez, negar uma tese cinematograficamente comprovada que as queimadas não são "naturais", e sim a expansão legitimada do agronegócio, da monocultura da soja, da cerca e do Grande Trator.]
A nossa preocupação com o meio ambiente vai além das nossas florestas. Nosso Programa Nacional de Combate ao Lixo no Mar, um dos primeiros a serem lançados no mundo, cria uma estratégia para os nossos 8.500 quilômetros de costa.
Nessa linha, o Brasil se esforçou na COP25 em Madri para regulamentar os artigos do Acordo de Paris que permitiriam o estabelecimento efetivo do mercado de carbono internacional. Infelizmente, fomos vencidos pelo protecionismo.
Em 2019, o Brasil foi vítima de um criminoso derramamento de óleo venezuelano, vendido sem controle, acarretando severos danos ao meio ambiente e sérios prejuízos nas atividades de pesca e turismo.
O Brasil considera importante respeitar a liberdade de navegação estabelecida na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.
Entretanto, as regras de proteção ambiental devem ser respeitadas e os crimes devem ser apurados com agilidade, para que agressões como a ocorrida contra o Brasil não venham a atingir outros países.
[Como já foi mencionado, a emissão de carbono pode chegar a 51%. Não há nenhum esforço em diminuir, apenas em deslegitimar o discurso climático. São os terraplanistas, os negacionistas, os pastores da ciência.
O derramamento de óleo não teve até hoje nenhuma comprovação de que tenha sido criminoso e nem muito menos orquestrada pelo governo da Venezuela. Uma estratégia que saiu pela culatra, uma reminiscência de Guerra continental na posição mais submissa possível aos interesses de Donald Trump. Não estou aqui defendendo as irregularidades, inclusive democráticas e de direitos humanos, que acontece na Venezuela, mas apontando uma construção canhestra de um inimigo ideológico, quando o espectro de interesses é todo ele de se comportar como o capitão-do-mato do Tio Sam.
Quanto ao respeito às regras ambientais, cabe lembrar o episódio em que o Presidente, deputado à época, em Angra dos Reis, pescando em zona de proteção ambiental, tomou uma multa, tentou dar carteirada e depois demitiu o diretor que o enquadrou.]
Não é só na preservação ambiental que o país se destaca. No campo humanitário e dos direitos humanos, o Brasil vem sendo referência internacional pelo compromisso e pela dedicação no apoio prestado aos refugiados venezuelanos, que chegam ao Brasil a partir da fronteira no estado de Roraima.
A Operação Acolhida, encabeçada pelo Ministério da Defesa, recebeu quase 400 mil venezuelanos deslocados devido à grave crise político-econômica gerada pela ditadura bolivariana.
Com a participação de mais de 4 mil militares, a Força Tarefa Logística-Humanitária busca acolher, abrigar e interiorizar as famílias que chegam à fronteira.
[Para quem não sabe do que se trata a Operação Acolhida, foi uma maneira que o Governo encontrou de lidar com o imenso contingente de venezuelanos que cruzavam a fronteira de Roraima em busca de asilo. A região que já foi palco de conflito entre moradores e imigrantes (incluindo o episódio de doação de marmitas envenenadas aos venezuelanos), hoje recebe essa missão diplomática liderada pelas Forças Armadas como mais uma forma de criar tensão na fronteira com a Venezuela, desta vez sob a honrosa justificativa da ajuda humanitária. As informações oficiais sobre a Operação são pouco transparentes, o que se sabe foi de um imenso surto de Covid-19 nos assentamentos, e que o Secretário de Estado de Trump, o belicista Mike Pompeo visitou a região, deu entrevista apenas para a Rede Record e disse que o Brasil era um grande aliado na guerra contra o bolivarianismo.]
Como um membro fundador da ONU, o Brasil está comprometido com os princípios basilares da Carta das Nações Unidas: paz e segurança internacional, cooperação entre as nações, respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais de todos. Neste momento em que a organização completa 75 anos, temos a oportunidade de renovar nosso compromisso e fidelidade a esses ideais. A paz não pode estar dissociada da segurança.
A cooperação entre os povos não pode estar dissociada da liberdade. O Brasil tem os princípios da paz, cooperação e prevalência dos direitos humanos inscritos em sua própria Constituição, e tradicionalmente contribui, na prática, para a consecução desses objetivos.
O Brasil já participou de mais de 50 operações de paz e missões similares, tendo contribuído com mais de 55 mil militares, policiais e civis, com participação marcante em Suez, Angola, Timor Leste, Haiti, Líbano e Congo.
[O Brasil tem sido uma vergonha em relação aos direitos humanos. Somos o país que mais mata homossexuais e pessoas trans no mundo. A ocupação louvada pelo Presidente, como por exemplo a do Haiti, a famigerada “Missão de Paz” liderada pelo General Heleno foi uma verdadeira chacina. Até hoje o exército brasileiro é temido e silencia o que aconteceu na região. Não temos o princípio da paz estabelecido em nossa comunicação diplomática desde que ideias como o “antiglobalismo” e discursos odientos, como o da posse de nosso Chanceler, foram incorporados ao nosso ethos político.]
O Brasil teve duas militares premiadas pela ONU na Missão da Republica Centro-Africana pelo trabalho contra a violência sexual.
[Abertamente machista e defensor de uma política de desigualdade de gêneros, o Presidente não só já fez declarações assustadoras em relação ao gênero feminino, como foi condenado por ter agredido a deputada Maria do Rosário (PT-RS) com a frase “não te estupro porque você não merece”. A violência doméstica cresceu em 68% durante a pandemia, demonstrando a fraqueza de seu sistema de prevenção e punição, como evidenciando esse aspecto estrutural da violência sofrida pela mulher. O caso da jovem menina de 10 anos estuprada pelo tio no Espírito Santo e torturada psicologicamente pelo Governo e a perversão da ministra Damares reforçam toda a sua conduta violenta. O respeito às duas militares premiadas está em provavelmente pensar que elas não votaram em você. As mulheres, Presidente, são aquelas do Ele Não, lembra?]
Seguimos comprometidos com a conclusão dos acordos comerciais firmados entre o MERCOSUL e a União Europeia e com a Associação Europeia de Livre Comércio. Esses acordos possuem importantes cláusulas que reforçam nossos compromissos com a proteção ambiental.
[Lembram da querela que ele arrumou com o Macron, presidente francês? Envolvendo inclusive a primeira-dama francesa, numa postura absolutamente grosseira? O motivo da briga foi uma crítica do banqueiro-Presidente francês em relação à postura desleixada do Brasil com os acordos climáticos. O desrespeito faz parte do programa olavista: tanto ao clima quanto aos outros.]
Em meu governo, o Brasil, finalmente, abandona uma tradição protecionista e passa a ter na abertura comercial a ferramenta indispensável de crescimento e transformação.
[Há uma cultura no que se entende em torno do conceito de “nacionalismo” no Brasil, que é a noção de estadismo e protecionismo do mercado interno. Uma noção bem básica, no sentido de que a proteção alfandegária de um mercado interno fortalece a indústria nacional e impulsiona o crescimento do PIB. Bolsonaro é de um outro nacionalismo: um que bate continência para a bandeira estadunidense, que entrega a base de Alcântara por duas mil pílulas de cloroquina e comemora o Independence Day. Se Walt Disney viesse em busca de um novo Zé Carioca, os ditames da política internacional desenhariam a “Mula Miliciana”, esse personagem terrivelmente burro e convencido, que ele encontraria nos trópicos.]
Reafirmo nosso apoio à reforma da Organização Mundial do Comércio que deve prover disciplinas adaptadas às novas realidades internacionais.
Estamos igualmente próximos do início do processo oficial de acessão do Brasil à OCDE. Por isso, já adotamos as práticas mundiais mais elevadas em todas as áreas, desde a regulação financeira até os domínios da segurança digital e da proteção ambiental.
[“Saudades, Thatcher! Saudades, Reagan! Alô, Conferência de Washington, euforia neoliberal, saudades! Cadê aquele plano austero de sufocar as economias periféricas com tetos de gastos e restrições do Banco Mundial, enquanto forçam a abertura ao mercado estrangeiro e ao regime liberal?” É esse o substrato da fala.]
No meu primeiro ano de governo, concluímos a reforma da previdência e, recentemente, apresentamos ao Congresso Nacional duas novas reformas: a do sistema tributário e a administrativa.
[Entre entraves e carinhos com o Congresso, as reformas tributárias e administrativas ainda tramitam com lentidão. De toda forma, o projeto mantém a política de castas adotada na Reforma da Previdência. A causa da sangria (pensionistas militares, judiciário e legislativo) não sofre qualquer restrição, e o custo é jogado no lombo da maior parte da população trabalhadora, cada vez mais descrente de condições dignas de emprego e direitos sociais. As reformas parecem as velhas caricaturas da sociedade absolutista francesa do século XVIII: o velho e maltrapilho povo sustenta, envergado e faminto, a aristocracia e a burguesia em seus privilégios. Dói na carne, mas esse tipo de tensão, ao menos historicamente, sabemos onde pode chegar.]
Novos marcos regulatórios em setores-chave, como o saneamento e o gás natural, também estão sendo implementados. Eles atrairão novos investimentos, estimularão a economia e gerarão renda e emprego.
[Procurem saber sobre o Marco Regulatório do Saneamento. É a entrega de nossa água. A velha estratégia do sucateamento da máquina pública em busca da salvação privada. O que não conseguiram com a CEDAE no Rio de Janeiro, fizeram em escala federal. A luz é cara? Agora a água também.]
O Brasil foi, em 2019, o quarto maior destino de investimentos diretos em todo o mundo. E, no primeiro semestre de 2020, apesar da pandemia, verificamos um aumento do ingresso de investimentos, em comparação com o mesmo período do ano passado. Isso comprova a confiança do mundo em nosso governo.
O Brasil tem trabalhado para, em coordenação com seus parceiros sul-atlânticos, revitalizar a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul.
[De acordo com a plataforma InfoMoney, a queda do investimento estrangeiro no Brasil deve cair em 40% em 2020, devido à pandemia e seu descaso federal, a desastrosa política cambial e a vacuidade na produção de consumo interno. Para o milionário estrangeiro, hoje o Brasil é terra arrasada, oportunidade ótima de devastação barata, apropriação fundiária, de patentes e de cérebros, mas um péssimo mercado a se investir.]
O Brasil está preocupado e repudia o terrorismo em todo o mundo.
[Diariamente o bolsonarismo infla discursos de ódio. Hoje o gozo da direita é toda sua pulsão de morte. Agonia de Eros, folia de Tânatos.
Vamos lembrar aqui de três casos: o ataque aos enfermeiros e médicos patrocinados pela cúpula bolsonarista, o motim miliciano no Ceará e o atentado à produtora de humor Porta dos Fundos por um militante fascista. Isso sem contar o caso dos “guardiões do Crivella” acossando a mídia nos hospitais municipais do Rio e os fanáticos de Damares na tortura psicológica (incluindo a revelação da identidade da menor violentada) com a menina de 10 anos do Espírito Santo.]
Na América Latina, continuamos trabalhando pela preservação e promoção da ordem democrática como base de sustentação indispensável para o progresso econômico que desejamos.
[A democracia é hoje a cédula mais inflacionada do sofisma fascista. Em nome dela se agride, em nome dela se persegue, e nome dela governa-se autoritariamente após uma eleição baseada na venda de dados digitais.]
A LIBERDADE É O BEM MAIOR DA HUMANIDADE.
Faço um apelo a toda a comunidade internacional pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia.
[O estratagema: defende a liberdade religiosa, e imediatamente insere seu significante vitimista. Não é possível falar em “cristofobia” em um país que persegue umbandistas, candomblecistas e qualquer outro cristianismo que não esteja alinhado à sua Teologia da Prosperidade e aos dados bancários de Edir Macedo. Contra a “cristofobia” de Bolsonaro, vamos erguer a memória do baiano Mestre Moa do Katendê, brutalmente assassinado por um bolsonarista. Capoeirista, negro, candomblecista e nordestino.]
Também quero reafirmar minha solidariedade e apoio ao povo do Líbano pelas recentes adversidades sofridas.
Cremos que o momento é propício para trabalharmos pela abertura de novos horizontes, muito mais otimistas para o futuro do Oriente Médio.
Os acordos de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, e entre Israel e o Bahrein, três países amigos do Brasil, com os quais ampliamos imensamente nossas relações durante o meu governo, constitui excelente notícia.
O Brasil saúda também o Plano de Paz e Prosperidade lançado pelo Presidente Donald Trump, com uma visão promissora para, após mais de sete décadas de esforços, retomar o caminho da tão desejada solução do conflito israelense-palestino.
A nova política do Brasil de aproximação simultânea a Israel e aos países árabes converge com essas iniciativas, que finalmente acendem uma luz de esperança para aquela região.
[O Brasil adota uma postura claramente pró-Israel. Várias aproximações diplomáticas foram feitas, o que inclui algumas grosserias como Eduardo Bolsonaro defendendo o assassinato de palestinos com uma camiseta em Israel.
O acordo de Trump é uma medida autoritária e desigual em relação ao povo palestino. O tratado reconhece assentamentos israelenses em terras palestinas, regiões amplamente condenadas por boa parte da comunidade internacional. Designa Jerusalém como capital indivisível de Israel e estabelece a criação do Estado Palestino sem forças armadas. É quase um Tratado de Versalhes em seus pontos mais humilhantes.]
O Brasil é um país cristão e conservador e tem na família sua base.
[O Brasil é um país continental, plural, constitucionalmente laico e complexo em sua estruturação familiar. O desenho rígido da norma sobre essa complexidade engendra em nós o pior dos fascismos, o da micropolítica.]
Deus abençoe a todos!
E o meu muito obrigado!"
22 de setembro de 2020
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