por Kya Mesquita
Setembro é um mês de adaptações da nossa realidade (internas & externas). A Lua Cheia em Peixes do dia 2, joga um balde de água no chão do mês inteiro, será difícil não dar atenção a esses sentimentos (discursos) suprimidos.
Virgem é o símbolo zodiacal que rege a maior parte do ciclo deste mês (até dia 22), ele que é sinônimo de “trabalho de formiguinhas”, de não encantamento com a vida, mas sim de servidão, organização e uma sensação de obrigação em moldar a realidade, seja a própria, ou a dos que estão próximos. Os signos de terra moldam a realidade material, mas só Virgem é capaz de entender como fazer algo funcionar, como olhar os detalhes (até se sentir exausto), fazer por todos como ele gostaria que fosse feito. É sobre dedicação e cansaço.
Mas, assim como a vida é uma eterna polarização de valores internos, Virgem não sobreviveria sozinho no Zodíaco sem seu par oposto e complementar: Peixes. Juntos eles formam um eixo muito humano: a ordem material & a adaptação emocional. Um é cheio de condições para querer e fazer algo acontecer na realidade, o outro não vê problema em partir de um lugar imaginado, não se importa em tentar arquitetar a realidade primeiro dentro de si ou dos outros. Esse último é Peixes, com certeza, e você pode perceber qual é o papel da arte e/ou da conexão espiritual na construção da nossa realidade através desse signo.
Compaixão não é empatia, compaixão é uma prática que tenta liberar o sofrimento do outro, empatia é só um exercício de compreensão mental.
Em Junho de 2020, as manifestações “Vidas Negras Importam” começaram com o trânsito de Marte em Peixes, o planeta da luta e o signo da liberação do sofrimento.
Peixes é a purificação a nível emocional, ele quer mudar a situação por uma outra dimensão, quer mostrar o sentimento enclausurado no inconsciente humano, quer inspirar e alinhar a todos no elo (invisível) entre o passado e o futuro, sempre pela lógica da compaixão.
Sabemos que o signo de Peixes não se encaixa muito na realidade prática, por não entender as condições reais, diárias, com corpos físicos, cotidianos, de se criar esse tal sonho. Mas o alinhamento desses dois elementos, sentimento e percepção material, pode iniciar muitas transformações. Um é sobre crítica, trabalho e análise racional, o outro é sobre acolhimento e inspiração, sobre o que se faz quando não se fala e não se está presente.
Martin Lurher King discursa em 1962
Martin Luther King era Capricorniano (Sol em Terra) e tinha Lua & Vênus em Peixes (Água). No dia 28 de Agosto de 1963, durante o ciclo Virginiano, ele fez uma das declarações mais históricas (e sonhadoras) da história dos EUA.
“Repetidas vezes, teremos que nos erguer às alturas majestosas para encontrar a força física com a força da alma. (...) Digo-lhes hoje, meus amigos, que, apesar das dificuldades e frustrações do momento, eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia essa nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: ‘Consideramos essas verdades como auto-evidentes que todos os homens são criados iguais.’” - Martin Luther King, “I have a dream”, 1963
Manifestante estadunidense em junho de 2020
Tradução: “Queridas pessoas brancas, parem de usar Dr. King como um exemplo de protesto pacífico… Vocês atiraram nele também”
Eu confesso que tinha escrito um outro texto para essa coluna. Até o dia 28 de agosto de 2020, quando se deu a passagem de um (dos vários que tenham completado sua passagem neste dia) grande ser humano, Chadwick Boseman. Um Sagitariano que também tinha Lua em Peixes, que entre todas as obras que se dedicou a interpretar, fez história como o Rei de Wakanda. Eu chorei, mas sei que Chadwick se esforçou em apresentar outras narrativas e imaginá-las através do cinema, mesmo passando por diversos problemas em sua vida pessoal, como o câncer e tudo o que vem com ele. Vi, então, o significado que queria trazer nesta coluna, sobre Virgem e Peixes.
Bosseman veio a morrer exatamente 57 anos depois do discurso em que de Martin Luther King imaginou uns Estados Unidos sem desigualdades, racismo e violência contra o povo preto. Lugar muito parecido com Wakanda, o reino de T'Challa, o personagem do filme que quebrou o padrão “produzido e feito só por brancos” de Hollywood – “Pantera Negra” (Marvel/2018). Sabemos que esse lugar não aconteceu e não é realidade, mas quão importante é esse tipo de conexão e inspiração através da arte para as pessoas?
Wakanda simboliza um mundo de possibilidades: o que teria acontecido a uma sociedade não afetada pelo impacto devastador do racismo e do colonialismo? Nesse sentido, o filme é um farol para a imaginação negra, o que a negritude poderia ser no futuro.
Na história fictícia, sem poderes externos extraindo seus recursos, ou impondo políticas de exploração, Wakanda floresce e se torna o país tecnologicamente mais avançado do planeta, rico em recursos naturais, uma sociedade matriarcal com plena justiça social. [1]
Tradução: Os artistas nos trazem experiências e nos convidam para seus mundos de expressão. Não menospreze uma pessoa que está de luto por alguém que ela nunca “conheceu”. Conhecemos Chadwick nos mundos para os quais ele nos convidou. E nós lamentamos.
Fonte: Twitter de Bernice King, filha de Martin Luther King.
Por fim, assim como no nosso último texto falamos sobre esperança radical, neste eu te pergunto, como seus sonhos moldam a realidade das pessoas ao seu redor ou até de pessoas que você nem conhece? Qual ficção norteia você em todas as obrigações e exaustões diárias presentes na sua vida? Como a arte te salva, ou te inspira?
Você provavelmente não estará aqui para desfrutar toda a realidade que está tentando construir e imaginar junto com suas companhias, mas a realidade que você está vivendo hoje pode ter sido o sonho de alguém antes de você.
[1] Alan Soares, “Afrofuturismo, O Farol Do Desenvolvimento De Um Sistema Econômico”. Disponível em: <https://movimentoblackmoney.com.br/afrofuturismo-o-farol-do-desenvolvimento-de-um-sistema-economico/>
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