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Foto do escritora palavra solta

Dois poemas inéditos de Lauro Mesquita




Desastre na confeitaria inglesa Nick Blinko esteve aqui

enquanto as caixas de som falhavam

serviam tortas feias de morango

cobertas por um suspiro de mal gosto

Nunca tinha visto aquilo um suspiro mal feito falhar

enquanto as caixas de som serviam

Nick Blinko tirava os morangos da boca

Os morangos que colocaram ali

pareciam cascas de ferida infeccionadas

enquanto as caixas de som entortavam

ao som estranho de um suspiro de bom gosto

Um sono de alguém alimentado

Nick Blinko distorcia feito suspiro

ficava líquido com rastro de pó grudado

e as caixas de som meladas

caíam em tremores sobrepostos



****



Algo que flutua


Mas não adianta apagar

permaneceremos presos

a algo que flutua, éter, ar

Nos contorcemos

inventamos algo que poderia ser uma chave

um buraco cavado, uma saída de emergência

uma revolução, um novo pensamento

algo que muda nossa maneira de conviver

Mas é aquilo, lá dentro permanecem as coceiras

e não há pomada e nem álcool

muito menos a água sanitária apaga

nem os sucessivos banhos dos dias de verão

as migrações, um novo idioma

ou um processo voluntário de aculturação

soda cáustica

Está lá

mesmo que ninguém mais saiba

Está lá

marcado por baixo de sete tecidos

ou por uma saída difícil

Está lá

pulsando na gordura e nos nervos

Mesmo que não tenha mais nada a ver com o cardápio familiar

O arremedo, a história breve

contada objetivamente, sem muita graça

Está lá

perene, duradora

Está lá

com todas suas falhas, inverossimilhanças, incredulidades

com a superação que a ciência dá às antigas soluções

Está lá

e parece que não

não se encontra o começo daqui






Lauro Mesquita (Pouso Alegre/MG) escreveu História de Vocês (Editora 7Letras) e já teve poemas publicados em revista e sites. Além disso é jornalista, roteirista e pai de dois meninos.


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