Desastre na confeitaria inglesa Nick Blinko esteve aqui
enquanto as caixas de som falhavam
serviam tortas feias de morango
cobertas por um suspiro de mal gosto
Nunca tinha visto aquilo um suspiro mal feito falhar
enquanto as caixas de som serviam
Nick Blinko tirava os morangos da boca
Os morangos que colocaram ali
pareciam cascas de ferida infeccionadas
enquanto as caixas de som entortavam
ao som estranho de um suspiro de bom gosto
Um sono de alguém alimentado
Nick Blinko distorcia feito suspiro
ficava líquido com rastro de pó grudado
e as caixas de som meladas
caíam em tremores sobrepostos
****
Algo que flutua
Mas não adianta apagar
permaneceremos presos
a algo que flutua, éter, ar
Nos contorcemos
inventamos algo que poderia ser uma chave
um buraco cavado, uma saída de emergência
uma revolução, um novo pensamento
algo que muda nossa maneira de conviver
Mas é aquilo, lá dentro permanecem as coceiras
e não há pomada e nem álcool
muito menos a água sanitária apaga
nem os sucessivos banhos dos dias de verão
as migrações, um novo idioma
ou um processo voluntário de aculturação
soda cáustica
Está lá
mesmo que ninguém mais saiba
Está lá
marcado por baixo de sete tecidos
ou por uma saída difícil
Está lá
pulsando na gordura e nos nervos
Mesmo que não tenha mais nada a ver com o cardápio familiar
O arremedo, a história breve
contada objetivamente, sem muita graça
Está lá
perene, duradora
Está lá
com todas suas falhas, inverossimilhanças, incredulidades
com a superação que a ciência dá às antigas soluções
Está lá
e parece que não
não se encontra o começo daqui
Lauro Mesquita (Pouso Alegre/MG) escreveu História de Vocês (Editora 7Letras) e já teve poemas publicados em revista e sites. Além disso é jornalista, roteirista e pai de dois meninos.
Comments