de Caetano Romão
uma ou duas vezes. Rapazes que nem eu
cheiravam cola e chutavam latinhas de soda
com jeito de te espero na saída. Ribeirão e seu rosto de canavial
cortado. Bastava isso pra que seus meninos trouxessem
a bermuda marcando as coxas. Mascavam chicletes de canela,
punham apelido um no outro, se passavam a mão. Cada baforada
dando zoeira na vista e formigando um volume maior
nos pentelhos. Acho que ali, o sol sempre bateu
maior do que a nuca. Por isso, esses mesmos rapazes
se chupavam atrás das caçambas da praça 7 de Setembro,
por isso esporravam no muro de trás da Beneficência Portuguesa,
por isso conheciam cada paralela da Getúlio Vargas como se conhece
a própria saliva. Com eles aprendi a segurar uma cidade
como se deve: pelo gargalo. Estive todas as tardes no Cinema Cauim,
tinham gosto de asfalto na boca.
CAETANO SOUSA ROMAO nasceu em Ribeirão Preto (SP) em 1997. Mudou-se para São Paulo em 2015, cidade que vive desde então. Formou-se em 2018 pela Escola de Música do Estado de São Paulo em Música Popular (Acordeão) e está concluindo sua graduação em Letras pela Universidade de São Paulo. Escreve poesia e se interessa pelas relações entre texto, musicalidades e perfomance. Teve poemas publicados em revistas digitais e lançou sua primeira plaquete Canil em 2019.
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