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Foto do escritora palavra solta

Gary Snyder faz noventa

Atualizado: 14 de set. de 2020

de Leonardo Marona



recolher um verso sob o sol

e outro, molhado de chuva,

deixá-lo secar com as frutas.

felicidade é essa viagem

com pedras nos sapatos

e um samba no coração.

não ligo que o mundo

esteja perto do seu fim

e que nunca tenhamos

sabido como estar nele.

eu quero o bafo bruto

do seu frescor bucal,

eu quero ouvir o hino

de todas as entranhas.

nos sonhos mais úmidos,

corpos caem de muitos

metros, sempre de pé,

depois correm de volta

para dizerem como foi.

como um gato que sobe

em minhas costas duras

ou um trompete agudo

quando bate meia-noite.

como a horda de vidas

na fila de uma atenção

miúda e tão ambidestra

nos cumes da gratidão.

quase raro o pendor

que compartilhamos

em cacos de versos,

água aberta que rola

diante da cachoeira

do que está por vir

e ainda não vemos.

água que se bebe

na sede invertida,

areia de projetos.

e sinto que as tardes

cozinham os alardes

enquanto eu aprendo

a ficar ereto, sentado,

com garras fincadas

nas costas dos gritos.

comer os versos como

quem come uma fruta.

então engolir sementes

para gerar no estômago

uma existência inédita.






Leonardo Marona (Porto Alegre-RS) nasceu no dia 4 de fevereiro de 1982. Publicou os livros: Pequenas biografias não-autorizadas (poesia, 7Letras, 2009); l'amore no (poesia, 7Letras, 2011); Conversa com leões (contos, Oito e meio, 2012); Óleo das horas dormidas (poesia, Oficina Raquel, 2014); Cossacos Gentis (romance, Oito e meio, 2015); Herói de Atari (poesia, Garupa Edições 2017); Dr. Krauss (novela, Oito e meio, 2017); Uma baronesa às quatro da madrugada (poesia, Ed. Urutau, 2018). Atualmente vive no Rio de Janeiro.

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