de Regina Azevedo
para os meus professores
as cortinas poeirentas, azuis, as paredes de pedra, as cortinas abertas quando o professor entra na sala, geralmente antes das sete, as cortinas se afastam e dão lugar ao sol, o professor espia lá fora, faz uma observação sobre o tempo, o trânsito, sobre como acordou mal mas a sala de aula é o seu remédio, a sua cachaça. o sol atravessa as janelas mais tarde, olhando para essa janela você vê um ou dois fumando um cigarro o professor entra, coloca sua bolsa sobre a cadeira, tira um por um os livros às vezes uma pasta chaves, óculos de sol e coloca-os sobre a mesa acho bonita a preparação para o espetáculo alguém vai pedir que liguem o ar-condicionado dependendo do professor, ele estará suado mesmo com o ar ligado suas roupas empapadas de suor e ele ou ela falam com os olhos brilhando sobre saussure ou os poetas da áfrica enquanto o professor comenta sobre um texto que leu noite passada ou às cinco e meia da manhã, um ex-aluno lhe traz um copo de café e diz você é o amor da minha vida o professor ri, diz que exagero, mas enquanto toma o café seu dia já está salvo. ali não há sinal, não há toque como em outros lugares nunca acertamos o tempo no setor 02 não somos bons de inícios e fins gostamos mesmo é de nos perder em olhares demorados gostamos mesmo é do almoço no bar de mãe gostamos dos banquinhos do chinchila, da biblioteca, de ler na sombra de uma árvore
gostamos de deixar o sol entrar
Fotografia: Lysa Rodrigues
REGINA AZEVEDO é poeta. Nasceu em Natal em 2000. Publicou os livros de poemas “Das vezes que morri em você”, “Por isso eu amo em azul intenso” e “Pirueta”, além de alguns zines.
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