CORONA
O outono devora suas folhas em minhas mãos: somos namorados.
Descascamos o tempo de dentro das nozes e o ensinamos a partir:
O tempo volta pra casca.
No espelho é domingo,
no sonho se dorme,
a boca diz a verdade.
Meu olhar desce pro sexo da amante:
Nos olhamos,
dizemos coisas sombrias,
nos amamos como papoula e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o brilho sanguíneo da lua no mar.
De pé abraçados à janela, o povo na rua nos vê:
é tempo que saibam!
É tempo da pedra se preparar para florescer,
que a inquietação faça bater um coração.
É tempo de ser tempo.
É tempo.
CORONA
Aus der Hand frißt der Herbst mir sein Blatt: wir sind Freunde.
Wir schälen die Zeit aus den Nüssen und lehren sie gehn:
die Zeit kehrt zurück in die Schale.
Im Spiegel ist Sonntag,
im Traum wird geschlafen,
der Mund redet wahr.
Mein Aug steigt hinab zum Geschlecht der Geliebten:
wir sehen uns an,
wir sagen uns Dunkles,
wir lieben einander wie Mohn und Gedächtnis,
wir schlafen wie Wein in den Muscheln,
wie das Meer im Blutstrahl des Mondes.
Wir stehen umschlungen im Fenster, sie sehen uns zu von der
Straße:
es ist Zeit, daß man weiß!
Es ist Zeit, daß der Stein sich zu blühen bequemt,
daß der Unrast ein Herz schlägt.
Es ist Zeit, daß es Zeit wird.
Es ist Zeit.
PAUL CELAN nasceu em Cernăuţi (à época chamada Czernowitz), que fora a capital da província da Bucovina. Até o fim da Primeira Guerra Mundial, a região pertencera ao Império Austro-Húngaro, e, por isso, o alemão, ao lado do romeno, era a principal língua de comunicação da aristocracia cultural de origem judaica, à qual o poeta pertencia e que constituía quase a metade da população da cidade. Entre 1918 a 1939, Czernowitz foi predominantemente uma cidade judia de língua alemã, com uma produção literária expressiva, que se encerrou no fim da Segunda Guerra. Todavia, mesmo algum tempo depois de 1945, predominava ainda a língua alemã.[1] Celan traduziu mais de quarenta poetas, de diferentes línguas, inclusive o português Fernando Pessoa.
Sobrevivente do Holocausto, Celan é considerado um dos mais importantes poetas modernos de língua alemã.
Nos últimos anos de sua vida, apresentava tendências autodestrutivas, delírio persecutório e episódios de amnésia.
Suicidou-se por afogamento, no rio Sena, em abril de 1970, aos 49 anos.
Adelaide Ivánova é uma fotógrafa, poeta, escritora e tradutora brasileira. Expôs suas fotos no Brasil, Argentina, Estados Unidos, França, Alemanha e Espanha. Estudou jornalismo, na Universidade Católica de Pernambuco, e fotografia, na Ostkreuzschule. Editou o zine anarcofeminista MAIS PORNÔ PVFR. Escreveu os livros "O martelo" (Garupa Edições, 2017) e "13 nudes" (Edições Macondo, 2019). Ganhou o Prêmio Rio Literatura em 2018. Vive na Alemanha. Escreve no blog vodcabarata.blogspot.com
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