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Foto do escritora palavra solta

Pedro Salinas na tradução de beatriz rgb

Atualizado: 14 de set. de 2020


Jardim dos frades


Do ar te defendeste, o tempo nunca pôde contigo, mas te rendes à água.

Que seguro de ti mesmo, que distante de tua alma, entre quatro ângulos retos estavas, rígido! Enorme dever da pedra cinza. Mas a água — por que a foste mirar? — te batizou de tremor, de curvas, de tentação. Te quebraram as tuas retas, os planos se arcavam em ti para viver, como o peito. Que bater em ânsias verdes, azuis, em ondas, contra os séculos retilíneos! Que recém-encontrada, nova, flutuando sobre o verde, sua querência de escapar da geometria e sina! Tua alma, tão insuspeita, solta já de teu cadáver, que seguia ali o mesmo — monumento nacional —, em seu lugar, para sempre. A água te tomou a alma.



(Poesias Completas, 1955)




Jardín de los frailes


Del aire te defendiste, el tiempo nunca te pudo, pero te rindes al agua.

¡Qué seguro de ti mismo, qué distante de tu alma, entre cuatro ángulos rectos estabas, rígido! Enorme deber de la piedra gris. Pero el agua - ¿por qué te fuiste a mirar? - te bautizó de temblor, de curvas, de tentación. Se te quebraron las rectas, los planos se te arqueaban para vivir, como el pecho. ¡Qué latido en ansias verdes, azules, en ondas, contra los siglos rectilíneos! Qué recién hallada, nueva, flotando sobre lo verde, tu querencia de escapar a geometría y sino! Tu alma, tan insospechada, suelta ya de su cadáver que seguía allí lo mismo - monumento nacional - , en su sitio, para siempre.


El agua te sacó el alma.





Pedro Salinas Serrano (Madri, 27 de novembro de 1891 — Boston, 4 de dezembro de 1951). Escritor, filólogo, professor e, como poeta, fez parte da Geração Espanhola de 27. Neste poema traduzido, percebe-se como Pedro expressa um sonho da matéria rígida diante da fluidez, através da imagética elemental, ao representar o Mosteiro do Escorial refletido no lago de seu jardim. Seu último verso reverbera uma tradição religiosa (não só) castelhana, encontrada em Santa Teresa e San Juan de la Cruz, na qual o reflexo aquoso se torna mais real que a realidade na pureza primordial e simbólica da água.



beatriz rgb (Beatriz Regina Guimarães Barboza) é doutoranda em Estudos da Tradução na UFSC na área de feminismos e queer. escreve, revisa, traduz. recentemente, publicou a plaquete with a leer of love (Macondo, 2019) e traduziu com Meritxell Marsal o livro Desglaç, de Maria-Mercè Marçal, como Degelo (Urutau, 2019) e publicou poemas em livros e revistas. edita a Pontes Outras com Emanuela Siqueira e Julia Raiz e, também com esta, a revista Arcana.




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