poema inédito de Valeska Torres
A poeta Valeska Torres foi convidada para o Mundial Poético de Montevidéo, no Uruguai! Mas infelizmente o evento não custeia as passagens, o transporte e a alimentação. Sendo assim, ela fez uma campanha de arrecadação de grana para tornar viável sua ida até lá. Existem muitas formas de apoio e no link a seguir você pode saber mais sobre: www.vakinha.com.br/3440706
navios fantasmas
para o rafael zacca
as vértebras das cidades
é nelas que os navios porram
como os marujos que dançam
trôpegos em marquises
batem com as testas na cartilagem dos sinos
penso que sonhar com você
envelhecido ao meu lado
não é nada fácil
enquanto o nosso corpos
vibram com a porrada
penso que a delinquência
enrijece os mais doces
nem por isso deixo de comer
batata-frita em marechal hermes
nem deixo de galopar
sobre algum equino de cascos rasgados
nas calçadas trêmulas do méier
pensar em sonhar o medo
e só por isso
já não ter medo
emular uma coragem doentia
os ossos esfarelados
amanhã não é nenhum mistério
ainda que o sino bata às 18h
vou delirar escrevendo seu nome
como se fosse o meu
um gesto desesperado
ainda que não tenhamos
nenhuma chave de fenda
pra cisar esse século
temos a mesma espécie de ressentimento
pelo mar que gruda
sem vibração
nas janelas do leblon
Valeska Torres é poeta, escritora, performer, educadora e editora. Publicou em diversas antologias, entre elas "As 29 poetas hoje" (Companhia das Letras, 2021), organizada por Heloisa Buarque de Hollanda, e em fanzines e plataformas digitais no Brasil, Argentina, Paraguai e Venezuela. É autora de "O coice da égua" (7Letras, 2019) e "Plutônio-239" (7Letras, 2022).
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